domingo, 30 de janeiro de 2011

Até qualquer dia

02:00 e o sono não vem.
Imagem fantasmagórica de mim olha-me nos olhos. É o Passado, o docemente amargo, Passado, o que já passou. Veio para dizer olá e perguntar se ainda me lembrava dele; que irónico da sua parte. Vagueia à minha volta à espera que diga algo, mas nada me ocorre. Olha-me nos olhos e sorri perversamente, como quem lê o que me corre nas veias, e mais tarde, nos olhos. Sim, sentimentos a fugirem pelos olhos. Ou melhor, não fogem, só vão dar uma volta para se espetarem contra mim mais tarde, noutro dia. Mas nem os consigo mandar dar uma volta, eles já fazem parte de mim, que seria eu sem eles, uma criatura vazia, limpa? Não, obrigada, prefiro sentir dor do que não sentir de todo (essa deve ser a maior dor de todas). O Passado continua sorrindo e fixando os seus olhos em mim; diverte-se a intimidar-me. E intimida-me; cada vez menos, mas intimida-me. Choro para a mandar embora, Ele desaparece quando choro porque chorar acalma as inquietações interiores, sejam elas quais forem. Choro compulsivamente. Depois todo este sentimento indefinidamente forte vai abrandando, cada vez mais, até cair a última lágrima. Abro os olhos e foi-Se.


Até qualquer dia.


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